POR MIM MESMO

 


POR MIM MESMO

Venho das terras férteis de outeiros, pequena e bucólica cidade encrustada no interior baiano.  A minha força vai além do giz na lousa ou do jaleco empoeirado; é uma espécie de simbiose íntima sustentada na crença inabalável acerca do poder que a educação tem em transformar vidas.  Não é sacerdócio! Pelo contrário, tem a ver com acreditar naquilo que faço e perceber os frutos em constante crescimento a meu redor. É enxergar o ser humano como um grande livro, com páginas escritas e em branco, prontas para serem apagadas ou editadas.

Da vida? Pouco espero. Encontro nas palavras a exatidão quase sepulcral de todas as coisas do mundo, das pensadas às ditas, dos amores aos infortúnios, como se a junção das letras carregasse toda a explicação buscada por mim no decorrer das eras, das vivências, nesse e em outros tempos.  Não procuro sabores ou desencantos, encontros ou despedidas, depois dos trinta quase tudo se molda e, bote fé, o ruim é apenas um ponto de vista.

O futuro é algo complexo e procuro ter uma relação mais amena com ele. Brotam daí certas ansiedades das quais eu fujo. O exercício de pensar também pode ser perigoso. Inquieta-te, por vezes dilacera.  Dos maiores prazeres, ah, sem dúvida, é escrever. Não me importo em ser lido, importa-me ser presente, como as palavras certas, ditas ou escritas, numa tarde de domingo. 

Do que ficou para trás, traz nada de bom. Pois, em todas as coisas que o amarelado do tempo gruda, converge ao entendimento de que tudo passou e importância alguma tem mais. Se o essencial é invisível aos olhos, como proclama por aí o Pequeno Príncipe, tenho para mim o quão prescindível é o passado.

As pessoas são como peças de um grande lego chamado mundo. Elas se encaixam aos seus semelhantes e ficam até o tempo findar ou quando as lições forem aprendidas. Eu sou uma minúscula pecinha desse todo; ora encaixo ali, ora acolá, e sigo nesse movimento até as minhas dobras desgastarem obrigando-me a ir para a próxima parada, onde ali faço minha viagem conhecendo novas paisagens.

Quando escrevo, me desnudo de tudo aquilo uma vez convencionado, partindo ao âmago do meu ser em uma tentativa ávida de me encontrar. Basta, para alguns, cantar, colorir ou cozinhar; a mim, sossego a alma fazendo um encontro consonantal fortuito ou um período longo. O autoral é a certeza da minha existência, tal qual a força da água movendo um grande moinho.

A fidelidade consigo próprio dá trabalho e implica a assinatura de um contrato de não-sabotagem. Assim, permita-se ser, o tempo todo, você mesmo, e não te envergonhes por isso. É provável que a solidão bata à sua porta; abra, convide-a para sentar, ela ficará algumas horas, quiçá dias, mas quando for embora, tenha certeza, deixara-te mais forte.  E se tudo deu certo, prazer! Esse sou Eu.

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