O PUXA-SACO E SUA FALSA VISÃO DE MUNDO


O PUXA-SACO E SUA FALSA VISÃO DE MUNDO

O “chaleira” no norte do país, “baba ovo” em São Paulo, ou o bajulador nas esferas literárias; dá no mesmo! Estamos falando do tão conhecido puxa-saco! Esse sujeito tem uma marca registrada e não passa sem ser notado nem mesmo nas densas multidões. Ele se rebaixa para agradar o seu alvo e o fio condutor da sua atuação é alimentado pela necessidade ávida de agradar a quem lhe pode garantir benesses ou favores. 
 
Na esfera pública ou no setor privado, encontramos os bajuladores dos mais variados tipos. Temos aquele que é o puxa-saco escancarado. Para ele, não há embaraço em demonstrar seu afã desvairado;  ao contrário, a exposição atesta sua identidade como pessoa e o torna membro de um clube restrito, com todo o bem-estar ilusório desse estado.
 
Há  também o retraído. Esse tipo de puxa-saco posa como equilibrado, mas, uma hora ou outra, perde o controle e deixa à mostra sua paixão. Geralmente quando isso ocorre, retoma a postura e se reinventa, com o objetivo de se manter isento. Em oposição ao escancarado, e por temer o julgamento alheio, vive encoberto, embora todos saibam o quão fanático ele é.
 
Poderíamos citar aquele puxa-saco clássico, que nem puxa-saco é, mas sim apenas um humilde serviçal incauto. Por estar abaixo hierarquicamente, ou até por depender diretamente da boa vontade de alguém para assegurar seu emprego, se condiciona no dever de idolatrar seu superior e de se prestar a ser uma extensão de propaganda, colaboração e apoio incondicional a este.
 
E quando o foco do puxa-saco é um político? A situação fica por deveras complicada. Como se não bastasse o ato de adulação ser demasiadamente constrangedor, descortina uma irracionalidade abissal, dando conta da total incompreensão sobre o papel do cidadão frente a um político em cargo eletivo. Afinal, esse é um servidor público eleito com a obrigação de  promover melhorias na vida das pessoas; já o primeiro tem a função de fiscalizar incansavelmente se realmente o trabalho está sendo feito e a contento. 

Uma analogia perfeita e autoexplicativa seria vê alguém agradecendo o caixa eletrônico pela emissão do dinheiro. Bem assim é constatar indivíduos devotando gratidão a um político por ele cumprir com  sua obrigação. Tipifica-se aí evidente confusão entre o dever e o favor, e é exatamente nesse ponto a atuação perversa dos detentores do poder.
 
Parte da explicação acerca dessa mente provinciana ostentada por boa parte dos brasileiros vem da desigualdade social vigente no país. A maioria da população pertence à classe trabalhadora que faz malabarismo financeiro para sobreviver. O emprego torna-se algo tão vital que é impensável perdê-lo; para não acontecer isso, faz-se de tudo, inclusive negociar opiniões e demonstrar afeição por quem emprega, numa estratégia cruel e obrigatória pela subsistência.
 
Então seria o puxa-saco um mero combatente na guerra pela sobrevivência? Talvez! Contudo, isso não o isenta da triste condição de barganhar suas posições e de violentar seu senso crítico em troca da afirmação de suas atividades laborais. É um jogo penoso, mas muitas vezes necessário para quem se arrisca no tabuleiro chamado vida.

Somente a educação pode nos salvar! Frase clichê, admito, e não é à toa que o autor bradava a sentença aos quatro cantos; porém, muito verdadeira. Quando bem instruído, o sujeito se percebe como protagonista e delimita o protagonismo do outro. E a consequência disso é vivermos em uma sociedade mais ativa, com cada um sabendo do seu encargo e longe de qualquer mendicância ou bajulação para quem, de fato, não merece.

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