SER SIMPLES NÃO É SER PORCO, SENHOR PRESIDENTE
SER SIMPLES NÃO É SER PORCO, SENHOR PRESIDENTE
Em todos os períodos históricos a sociedade se dividiu basicamente em duas categorias: os abastados – donos do poderio econômico e por apontar as tendências a serem seguidas; e os pobres – maioria absoluta vivendo em condições vulneráveis e responsáveis pela força de trabalho a bancar toda a engrenagem social. No Brasil, esse último grupo, a luz do ideário socialista da época, foi denominado como o proletariado; e assim como no resto do mundo, se destacou na luta por uma origem mais digna. Com o passar dos anos, frente às mudança impingidas pelo estilo de vida contemporâneo, a simbologia refletida na resistência dos menos favorecidos ainda continua realçada. Não pela imagem distorcida sugerindo pouco asseio como quis evidenciar o Presidente da República, mas sim pelos esforços diários de um povo inconformado com sua realidade.
Aos desatentos aos noticiários, o episódio mencionado ocorreu há alguns dias e retratava o chefe do Poder Executivo a comer um frango com farofa numa suposta barraquinha de rua. Sem modos, o presidente usava as mãos em vez de talheres, enquanto sobras do alimento juntavam-se na sua perna, em uma cena grotesca. Mais tarde, veio à tona que o ocorrido foi forjado pela equipe de marketing de Bolsonaro, com o ambiente preparado de antemão para parecer algo natural. O objetivo do tento, segundo fontes do próprio governo, era sobressair a simplicidade do mandatário como um homem comum, assim como os milhares de brasileiros existentes por aí. O insucesso chegou de imediato. A publicação foi amplamente rechaçada e rapidamente apagada horas depois pela assessoria presidencial.
A tacada malfeita pode ser explicada por vários ângulos, com diferentes argumentos. Talvez o principal seja a inconcebível associação feita pelo presidente entre ser simples e ser porco. O vídeo mostra alguém sem nenhuma compostura à mesa, exalando uma faceta primitiva e desprovida de qualquer razoabilidade. E pasmem! Esse homem é o presidente do Brasil. Embora já tenha demonstrado total falta de apreço pela liturgia do cargo, tosco como é, a cada novo gesto consegue impressionar ainda mais quem o assiste. Ao menos, dessa vez, se deram conta do vexame e melindraram no discurso a fim de deixar o acontecido cair no esquecimento.
Pobreza não é sinônimo de porcaria, presidente. E se o senhor acha que as pessoas de baixa renda comem daquele jeito, definitivamente está a definir o país como um grande chiqueiro e os habitantes como porcos. De pronto, alerto para o terrível engano. O povo não se porta daquela maneira e se sentiu ofendido por tamanha desfaçatez. Já é sabido do seu deslumbre em promover políticas para enriquecer empresários e as práticas de peculato; quiçá seja por isso sua visão míope a respeito dos mais pobres, afinal, em face do comportamento ostentado, a classe trabalhadora é mera coadjuvante nesse processo e deve-se contentar com as migalhas caídas dos banquetes da governança financiados pelos cartões corporativos. A propósito, esses estão imunes às investigação sobre seu uso, refletindo a moral duvidosa de Bolsonaro.
Em verdade, não faria muito sentido esperar uma postura inteligente do Jair. Em três anos de governo, deu incontáveis provas de sua ausência intelectual e da sua perene insensibilidade com a população. Para ele, pouco importa o estado das coisas, desde que se mantenha inalterada a capacidade de tirar proveito do repertório, logo está tudo bem. Entretanto, em seu desfavor, a falsa imagem de homem simples não engana ninguém. Até mesmo em seu eleitorado, divergem-se opiniões sobre isso e elenca-se mais sua incompetência em gerir o Brasil. Com as mãos sujas pelos crimes de responsabilidade, sua administração se assemelha à peça publicitária publicada noutro dia: uma grande porcaria!
Vai trabalhar, presidente! O Brasil está em frangalhos, as pessoas desempregadas e a fome assolando milhões de brasileiros. Honre seu mandato e porte-se como alguém decente e digno de sentar nessa cadeira. Esqueça essa paranoia ideológica e desenvolva o gosto pelo labor. Se não for pedir demais, use um pouco o cérebro para pensar em saídas para resolver os problemas reais do povo. Seja lembrado por ações proativas e que, de fato, nos ajude a viver melhor. Caso não se sinta preparado para a tarefa, como de fato percebemos, abdique-se! Estamos em um buraco e precisamos urgentemente de alguém para alçar uma corda, e não de um parvo a cavar ainda mais abaixo.
E ao tentar mostrar os predicados que imagina ter, tenha a coerência de não fabricar situações com fins eleitoreiros. O senhor pode achar normal se mostrar como um suíno ao se alimentar, mas não coloque o povo nessa jogada fazendo alusões descabidas. Isso é rasteiro! Tenha o mínimo de respeito para aqueles que estão lutando para sobreviver os dissabores do dia a dia e a esse governo pérfido do senhor. Tenho dúvidas se o Brasil consegue aguentar até o final da sua gestão, contudo, se por milagre acontecer uma sobrevida, os traumas serão enormes, sobretudo pelo adormecimento da consciência humana em parte da população. Foi o senhor a figura central para esse desfecho de miséria que assolou o país, e será lembrado por isso.
Comentários
Postar um comentário