A SIMPLICIDADE É O MAIOR DOS DESEJOS PARA O ANO NOVO

A SIMPLICIDADE É O MAIOR DOS DESEJOS PARA O ANO NOVO

Fogos de artifícios colorem o céu em um espetáculo digno de admiração. Nos lares, nos templos, nas ruas, comida e bebida em demasia. Risos e abraços nas areias das praias lotadas; é mais um ano novo que se aproxima. As listas de desejos devidamente prontas, todos estão esperançosos para alcançarem seus objetivos. Seria impraticável descrevê-los, afinal, cada pessoa possui anseios diferentes, num expediente sabidamente individual. Todavia, se coubesse a mim a tarefa de sugerir uma bandeira para o ano vindouro, certamente seria desenvolver uma existência pautada na simplicidade. 

Nada tem a ver com a posse — ou não — de bens materiais; a simplicidade atrela-se ao uso dos recursos existentes como fonte de inspiração de um viver feliz nas esferas humanas. Quer seja sobre o endinheirado executivo em Nova Iorque, ou sobre um monge recluso nas montanhas do Tibete, ambos compartilham necessidades que validam suas vidas. Talvez o segundo, a rigor das experiências singelas e do modo em enxergar a vida, faz-nos querer ser mais parecidos a ele em vez daquele outro. De fato, unir simplicidade e dignidade é muito atrativo, com o bônus da elevação espiritual no pacote.

Além disso, o poder contido nessa conduta monástica é positivo, pois, ao abdicar de confortos, abre-se espaço para que emerja aquilo que é efetivamente importante. Simplificando, aos poucos, a vida ganha contornos mais sólidos e o conhecimento nos concede sua bússola para deixá-la menos complexa. Ao compreendermos esse passo, outras questões surgem com o mesmo teor de reflexão e nos fornecem pistas acerca do caminho escolhido. Trata-se do agora — momento soberano e único —, e a finitude do ser — a qual representa desconforto para tantos.

Sim, o agora! Mutável, palpável e real. Ele é a garantia da existência e nos permite ter controle de nossas vidas. O presente é, entre outras coisas, um ato de coragem àqueles dispostos a olharem para si sem artimanhas, notando as imperfeições e ressignifcando-as para algo mais produtivo. Somente os corajosos, com uma boa dose de resiliência, arriscam-se nessa jornada. E convenhamos: há bastante simplicidade nesse gesto. Algumas vezes, nosso senso de direção é encontrado justamente quando estamos perdidos.

Em relação a finitude, os Homens vivem enganados descartando a certeza de seu perecimento. Agem despudoradamente, apegam-se às crenças limitantes, cometem todo tipo agravo, iludem-se em falsas correntes, embrenham-se em conceitos falidos, afastam-se dos valores sublimes, enquanto chafurdam em seus próprios erros. Desprezam o hoje por terem uma convicção quase doentia que o amanhã virá. Decerto o futuro sempre vem, só não sabemos se estaremos aqui para saudá-lo. A simplicidade também é isso, é a oportunidade de sermos plenos no momento que nos for possível.

Uma vida significativa preza pela a realização, e não por satisfações diárias efêmeras.  Realizar-se é sinônimo de sentido, de missão, do porquê estarmos aqui e como procedemos na nossa busca. Quando nos conectamos em nós mesmos, já estaremos bem próximo do desembaraço entre viver e sobreviver.  De fato, essa distinção não é tão evidente — e sobretudo as causas que nos trazem até ela; mas, sem dúvida, seria um bom começo perguntar-se a respeito da simplicidade e se ela faz morada em seu espírito.

Ainda que a resposta seja negativa, parta daí para iniciar sua reforma íntima. Caso não seja, é hora de fazer da simplicidade um mote verdadeiro para guiar suas ações daqui em diante. Seguindo tal perspectiva, você se ligará com a esperança e a disposição a fim de lidar com os problemas do cotidiano com determinação renovada. Por fim, vale ressaltar que, se há um pecado contra vida, talvez não consista em um viver desesperado, mas sim na pura covardia de furta-se a lutar pela mudança necessária.

Feliz Ano Novo!