A MALEDICÊNCIA DE CADA DIA






A MALEDICÊNCIA  DE CADA DIA

Depois de um longo inverno, cá estamos neste espaço a esboçar mais um punhado de palavras. Pouco importa para a ínfima audiência da página a sucessão dos fatos ocorridos nesse hiato, talvez menos ainda o que vai se desenrolar nos próximos parágrafos; afinal, está aí a única vantagem de não ser acompanhado, podemos escrever com mais liberdade sem maiores preocupações com os impactos causados. De muitos assuntos para se abordar, preferi, dessa vez, voltar-me a uma temática local, mais próxima da minha realidade, a tal da maledicência e suas consequências na vida das pessoas.

Antes de qualquer coisa, não sou juiz e nem Deus; logo, a intenção de julgar alguém inexiste nessas linhas. Do pior ao melhor, sou igual a todos os andantes dessa Terra que ri e chora em busca dos seus próprios caminhos. A maledicência pode ser uma palavra antiga, mas se enquadra perfeitamente nos tempos contemporâneos. Trata-se, portanto, de comentários maldosos, injúrias ou calúnias direcionadas a outrem com o intuito de humilhá-lo à revelia de um grupo ou comunidade.   

Com o apogeu das redes sociais, somada à facilidade do anonimato garantida nesses ambientes, é comum vermos ataques intensos à honra das pessoas, proporcionando um espetáculo decadente de falência da dignidade humana. Segundo a Psicologia, o maledicente é um sujeito ressentido e infeliz; por ser assim, ele tenta desanuviar essa nuvem pesada que carrega ferindo outros indivíduos por meio de mentiras e agressões multifacetadas, em uma tentativa vil de curar o vazio existencial inerente ao seu ser. 

Há também uma dose de inveja permeando a vida do maledicente, constituindo seu perfil como uma pessoa ressentida, invejosa e, sobretudo, infeliz. O produto das ações praticadas por ele resulta, quase sempre, em dor, sofrimento e angústia em suas vítimas. A maledicência tem um potencial destruidor, porque atinge as pessoas, as famílias, abala amizades e relacionamentos. Não raro assistirmos casos de depressão ocasionados por difamação publicada nos meios digitais, onde pelo alcance rápido e amplo, transforma o agredido em uma berlinda humana, causando-lhe grande constrangimento. 

A maledicência é uma guerra travada nos porões do cotidiano com o uso da língua tal qual uma arma afiada pronta para destruir o oponente. Ela é uma saída indigna escolhida por covardes que, em vez de irem à luta galgar seus objetivos, optam por permanecerem estacionados, sem perspectivas, mas arquitetando estratégias para fazer outros ficarem em semelhante situação. Pois, às vezes, o maledicente inveja o inimigo, em outras, ele deseja ser o inimigo. E ao maldizer, coloca para fora todo o amargor do seu âmago.

O refino cristão também entra na seara da maledicência e nos dá pistas o quão nocivo à prática é. Nas escrituras, Thiago, Salmos, Provérbios, enfatizam o tema sempre em tom condenatório. Entretanto, nenhum livro é tão assertivo quanto em Efésios 4:29. "Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, mas só a que for boa para promover a edificação, para que dê graça aos que ouvem." Neste sentido, fica claro que, mesmo nos primórdios das eras, a humanidade já lidava com a maledicência e toda a carga nefasta por ela trazida.

Assim, é factível a concordância que a maledicência é um expediente trivial na formação da sociedade. Se hoje enfrentamos essa dinâmica com maior propagação, é pura e simplesmente pela potência da internet, que possibilitou amplificação de comportamentos ruins até então restritos a pequenos ninchos. Quando injuriamos alguém, não só deixamos um rastro de negatividade, como também mostramos o tamanho da sordidez que vive em nós. A língua é uma poderosa ferramenta de comunicação. No entanto, ao usá-la de forma indevida, transformamos belos jardins em grandes desertos.

Para arrematar, o alerta para o maledicente é a constatação certeira da derrota. Sim, porque ele desde sempre já perdeu qualquer jogo. E perde para si mesmo, afinal, morre um pouquinho a cada vez que destila seu veneno. É como atirar uma brasa quente em alguém, você pode até atingir o alvo, mas você também sairá queimado. Em tempos difíceis, que nos exigem resiliência e compaixão, que saibamos refrear a língua, para vivermos mais conectados com as coisas edificantes e deixarmos, enfim, de sermos ignóbeis.     







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