O PRESENTE É A ÚNICA COISA QUE TEMOS

O PRESENTE É A ÚNICA COISA QUE TEMOS





"O presente não é um passado em potência, ele é o momento da escolha e da ação." Frase dita por Simone Beauvoir, filósofa francesa marcada pelo movimento existencialista do início do século XX. O trecho em destaque traz uma concepção enraizada sobre a importância do agora e os desdobramentos gerados aí. Trata-se, portanto, de olharmos para o hoje e selarmos de uma vez as pazes com ele; em tempo, abrirmos mão do que passou e decididamente rechacemos esse impulso quase doentio de esperar pelo futuro. 

Ao fazer uma análise à sombra da pergunta de quais são os principais males da existência no mundo moderno, inevitavelmente teríamos a conclusão albergada nos epicentros da ansiedade e da depressão. Certamente ambas as patologias, tão difundidas nas ciências médicas, encabeçam a lista dos grandes desafios a serem superados pela sociedade; e parte desse enfrentamento está diretamente atrelado à compreensão do tempo. Afinal, a depressão é o condicionamento exagerado ao passado; enquanto a ansiedade liga-se no excesso do futuro.



A compreensão acerca do tempo versa em um confronto entre o real e o irreal, ocupando todos os espaços da consciência humana e atuando a partir daí frente ao concreto e ao abstrato. Logo, é possível entendermos que o passado só tem vida dentro da nossa mente e para ele fazer sentido dependerá do sacrifício do presente; pois, quando nos apegamos ao pretérito — e mesmo ao futuro, estaremos, necessariamente, anulando o agora, e por consequência negligenciando a vida. O caráter ilusório do tempo acerta-nos com grande estranhamento e nos toma de dúvidas, como se de fato fôssemos alheios a toda essa influência.

Ledo engano! Nem mesmo a reconstrução de uma memória se torna verossímil como realmente ela ocorreu, pois os detalhes da lembrança partem do princípio em vista das impressões carregadas pelo sujeito no tempo atual. E o futuro também não escapa dessa armadilha mental, à medida que se transforma em nada menos do que a presentificação de algo ainda não vivido. Toda antecipação é alicerçada naquilo que o indivíduo é hoje. Recuar ou avançar no tempo é um exercício viciante, mas deveria ser encarado como perigoso. Quem assim vive, se ausenta do presente, passando a vida inteira esperando pela felicidade e não a vê quando por fim ela chega.

Mas, finalmente, já com a amostra da inexistência do passado e do futuro, o que nos resta? Simples, o presente! O único tempo verdadeiramente nosso e configurado como tal a vida acontece, cheio de incertezas, alegrias e infortúnios. Ele é exatamente o agora e constitui-se de surpresas. Por ter essa característica, é altamente rejeitado pelo cérebro, porque esse é treinado para conservar sempre o controle das situações vividas.  Fugir para um futuro idealizado, ou para os fatos agradáveis do passado, é uma ótima estratégia para driblar a crueza e as vicissitudes de um presente palpável.



Traumas, falsas ilusões, meias verdades, esperanças, tudo isso são muletas metafísicas alimentadas dando conta de nos reprimir e nos afastar da virtude mais salutar: a coragem para viver. Confrontar o presente e arregaçar as mangas para mudá-lo — caso seja preciso — não é um caminho sem espinhos. Exige amadurecimento para dizer e escutar, para moldar e ser moldado, demanda permissão em soltar as rédeas imaginárias de uma vida genuinamente dispensada de controle. A fugacidade do agora talvez seja o elemento mais belo da sua própria composição, pois esfrega em nossa face o quão pequenino somos.

E ao falar de pequenez, deixemos, então, de apequenar o passado e de dramatizar as incógnitas do futuro; em vez disso, fixe no chão pisado e aprecie os frutos oferecidos pelo presente. Use as ferramentas dispostas para resolver os problemas de hoje. Caso a busca elementar de uma vida seja a felicidade, é bom começar a perceber que ela é uma vibração, uma sensação de plenitude passageira, um estado de espírito galgado momentaneamente; e se é momento, é agora! É o tempo presente!

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