O SAL DA VIDA É A MORTE



O SAL DA VIDA É A MORTE


A beleza das coisas encontra-se em sua finitude e que responde à fragilidade irremediável de cada ser ao se perceber como fator limitado. Uma flor artificial não é tão bela quanto à pétala crescida nos campos; e assim é, sobretudo, por sua continuidade irrefreável. A brevidade da vida a deixa mais frágil e suscetível aos desafios salutares para o crescimento do indivíduo, e com sobras esse marco de imprevisibilidade se transforma na força motriz para qualquer sujeito sabedor do seu protagonismo.


Falar sobre a morte quase sempre foi concebido como um tema espinhoso. Até mesmo os povos mais antigos evitava a explanação acerca da não-existência; embora alguns, como os  egípcios, por exemplo, entendiam-na apenas como uma passagem para um outro plano. As crianças dialogam com mais naturalidade quando o assunto é a morte, afinal, para elas, a compreensão de vida é ainda precoce e inexiste o conceito de passado e futuro. Já os idosos são mais reticentes, especialmente pela visão deformada que prega a aproximação desse público ao passar dos anos.

Temer o inevitável é como evitar a comida ao anúncio do ronco abdominal. Adia-se a necessidade por algo que fatalmente ocorrerá. Independente da sua vontade, a morte chegará; e temê-la é um exercício improdutivo. A grande sabedoria de vida é a preparação para o instante da visita da morte frente a tudo àquilo já desempenhado antes dela. Pois, de fato, a maior mensagem deixada por alguém é a sua própria vida.

Morrer nos torna úteis e práticos. Não deveria ser visto como melancólico ou depressivo. Todavia, como vivemos em uma sociedade narcísica e doente, o desaparecimento do EU é visto como ruim. E o embasamento dessa vertente está culturalmente ligada à religião, iniciada ainda no catolicismo do século XII, com a ideia do céu, inferno e o purgatório. Ali, nascia um condicionamento de afastar a menção da morte, fato esse que perdura nos dias atuais.

Falar da morte deveria ser trivial. É como atestar em relação ao nascer do sol, ou da influência da lua nas marés. Todos esses fenômenos acontecerão, quer falemos deles ou não. A morte é o combustível da vida, fazendo-a ter sentido e direção. Se duvida, repare nos vampiros e contaste o quanto são apáticos. A eternidade é enfadonha e sem perspectiva, particularmente porque excetua os riscos e garante, obrigatoriamente, ao portador o prosseguimento como um castigo perpétuo.

Então, por que somos tão avessos quando o assunto é a morte? Quem sabe seja, além daquilo já explanado até aqui, pela inquietação de não mais existir. Não nos é confortável a percepção de que, talvez, após a  chegada da derradeira hora, simplesmente desapareceremos. Aceitar esse parecer nem de longe é fácil e também nos causa medo; e por temer tal desfecho, a maioria das pessoas sequer aceita mencioná-lo. Contudo, nada disso mudará a conclusão dessa atividade. É uma batalha perdida de véspera, sem consolo ou apelação.

Portanto, esqueça o temor da morte e trate de viver da melhor forma possível. E se por um lado não devemos amar a vida em demasia, como se ela fosse infinita e beirando a insanidade, tampouco é aconselhável passar uma existência inteira evitando pensar a respeito do fim por medo de antecipar o encontro. O arremato é entender sobre o mal que não tem remédio, remediado ele está. Pare de perder tempo buscando controlar tudo e a todos, pois, assim como a morte, isso é uma tarefa inglória.



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