SOBRE O MEDO
SOBRE O MEDO
Se existe uma dinâmica mais ou menos padronizada perante a uma vida razoavelmente equilibrada, sem dúvida seus elementos se encontram presentes no medo. Esse, entendido como uma reação instintiva da espécie humana, não pode ser visto como algo negativo; pois, de fato, produz efeitos necessários que garantem a sobrevivência. Nem mesmo seu caráter abstrato pode contestar tal afirmativa, uma vez sendo perceptível o rigor da sua atuação ao longo da construção do homem no transcorrer da história.
O medo, em tese, não nos destrói, mas exige uma análise atenta quando sua dominância se acentua. Nesse estado, o indivíduo é forçado a abrir mão do controle sobre si próprio para viver escravizado entre questões subjetivas. Confirma-se, então, um novo estágio ligado à uma patologia denominada pelas ciências médicas como fobia. Imposta essa condição, julga-se necessário a busca por ajuda especializada a fim de evitar quadros complexos e incapacitantes ao paciente.
Entretanto, a outra face do medo é responsável, pasmem, por nossa existência. Por exemplo, por temer um acidente de carro, dirigimos com mais prudência; o consumo de álcool é contido quando lembramos daquela ressaca indesejável no dia seguinte; ou na iminência de um perigo, agimos com cautela e resguardo. Ações cautelosas como essas só são possíveis à medida que o temor das consequências nos faz parar.
O comportamento de preservação foi observado desde o princípio da constituição humana. O homem primitivo se abrigava em cavernas e saía de lá apenas para comer, assim evitava o contato com os grandes animais se colocando em segurança. Nesse contexto, o medo funcionava como aparato de conservação da vida.
O pavor em excesso - ou fobia - é o chamado medo nocivo, pois paralisa quem o sente e dá conta de deformar a realidade. Em antítese, há o medo benéfico, aquele que oferece ao sujeito a sagacidade de vivenciar situações de forma segura ou com os riscos minimizados. São dois lados de um mesmo foco e os impactos advindos daí também são distintos.
Uma pessoa com hidrofobia jamais se arriscaria entrar no mar; já outros que não sentem medo de água, mergulhariam; porém, em um dia de maré alta, esses refletiriam um pouco mais acerca dessa possibilidade. Isso é ser comedido. Ter coragem é enfrentar os medos sem abdicar da prudência. E a compreensão desse postulado nem sempre é matéria exata.
Em síntese, saibamos dosar nosso medo para que ele não seja um fator limitante e nem tampouco uma catapulta tresloucada, jogando-nos inconsequentemente aos perigoso da vida. O medo em excesso nos leva a uma paralisia de covarde; a falta dele nos conduz a uma existência suicida. A comunhão de morte entre o veneno e o remédio se abriga na dosagem utilizada.
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